VidiGug
Um.Museu.Guggenheim na Favela.do.Vidigal

 

e . . n . . g . . l . . i . . s . . h

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A nova animação em 3-D começa
sobrevoando o Arpoador...


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o Leblon..
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e chega no Vidigal...
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mostrando o Morro dos Dois Irmãos...
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e dando close no Vidigug.
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Depois de uma subida pela favela...
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aparece o museu.
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As portas de entrada.
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O hall de entrada.
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A planta do museu.

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O salão superior tem um anfiteatro impar...
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cujo palco aproveita a curva do buraco
no meio do museu.
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O Losango é uma sala de exposição para grafite...
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com plataformas de observação.
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O terraço no alto do museu com
jardim de esculturas.
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Esta sequência mostra o 'prédio
de relocação' dos moradores no
terreno do VidiGug.
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O topo do prédio de reloação
serve como praça no nível térreo
do VidiGug...
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criando assim espaço público
muito necessitado.

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O interior do buraco do VidiGug é espelhado...
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permitindo visão de dentro para fora das
várias salas que o cercam.
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Agradecimentos ao K2 Sistemas por contribuir generosamente o modelo e animação do VidiGug em 3-D. e a
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mande.seus.comentários.
para
.yo@rickyseabra.com

A seguir, texto e desenhos do projeto VidiGug:

De 2001 a 2003 o prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia propôs a construção de um Museu Guggenheim no centro da cidade num pier da Praça Mauá. O design do projeto de Jean Nouvel (arquiteto do Institut du Monde Arab em Paris) custaria 200 milhões de dólares. A cidade do Rio entraria com o dinheiro. O Guggenheim com o nome e as obras de arte. O projeto foi embargado depois de muita controvérsia e processos na justiça. No entanto a ampliação da franquia Guggenheim para o Rio de Janeiro mexeu com a imaginação do carioca.

Um dia ...

eu estava na praia de Ipanema e, olhando para o Vidigal no Morro dos Dois Irmãos, tive uma idéia. Pensei que a visão de um Guggenheim no centro do Rio simplesmente não era interessante como o Guggenheim de Bilbao.

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O Morro dos Dois Irmãos e (esq) a favela do Vidigal

Para que um novo museu Guggenheim possa ter a audácia e espírito inovador do Guggenheim de Bilbao tinha que ser construido ou num lugar inesperado e longíquo como Santo Amaro da Purificação (Bahia) ou ...aí vem a idéia... no topo de uma das favelas mais famosas do Rio de Janeiro: o Vidigal. O nome do museu: VidiGug. E a única maneira de se chegar até o museu é a pé por dentro da favela.

Uma Crítica à Proposta do Guggenheim no Centro do Rio.

Juan Ignacio Vidarte, Diretor do Museu Guggenheim de Bilbao e diretor do estudo de viabilidade para o novo museu disse: " Como em Bilbao, o novo Museu Guggenheim servirá de âncora para um importante plano de renovação urbana que certamente terá um impacto positivo na região." Concordo plenamente com o Sr. Vidarte de que os efeitos de tal projeto seriam positivos na região da Praça Mauá. Mas poderia ter o efeito contrário no outro extremo da Avenida Rio Branco, na orla onde fica o MAM (o Museu de Arte Moderna do Rio).

O Rio já conta com um museu que causa impacto como o de Bilbao: o Museu de Arte Contemporânea de Niterói de Oscar Niemeyer, um museu que, como o modelo Bilbao, desencadeou a revitalização da orla de Niterói com uma série de obras do Niemeyer atualmente em construção. Ou seja, talvez o Rio não comporte mais um projeto museu/orla.

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Museu de Arte Contemporânea, Niteroi

O Rio precisa de um approach mais radical de renovação urbana nas favelas. Trazer um nome de influência como o Guggenheim para encabeçar a Haussmannização e desenvolvimento de uma favela seria bem mais audacioso que a construção de mais um museu no centro da cidade. Não só serviria como uma "injeção de mudança" que afetaria o resto da favela mas inspiraria outros modelos de cooperacão internacional em outras favelas do país. É o poder de transformação da arte colocada em prática em grande escala.

Um novo Guggenheim no Rio deve se IGUALAR ao modelo Bilbao na sua audácia... não simplesmente IMITAR o modelo Bilbao. Sinto que o O VidiGug pode ser tão louco e inovador quanto as curvas em titânio do Frank Ghery.



Vista do Vidigal do Leblon

OK... vamos cair na real um pouco... Claro que tudo pode ir por água abaixo com um só ataque de traficantes à coleção do Guggenheim. Não digo que seria um projeto fácil. Nem digo que seria um projeto viável. Mas quando falo desta idéia aqui no Rio (especialmente em bares) ela causa muitas reações positivas e discussão sobre o papel da comunidade no projeto - algo que parece que faltou um pouco na proposta do Guggenheim do Centro do Rio.

A idéia de um Guggenheim na favela do Vidigal evoca muitos cenários de sucesso e de fracasso. E é isso que faz da proposta VidiGug uma visão tão interessante: a quantidade de discussão sobre o potencial de transformação que poderia gerar.

O VidiGug seria mais que um museu, mais que um projeto de renovação urbana. Seria um catalisador de integração urbana. E quando falo de integração falo da integração asfalto/favela (asfalto sendo a parte "normal" da cidade onde a cidadania, a lei e a ordem fazem parte do tecido urbano). As favelas, por outro lado, são ilhas de desordem urbana. A própria estrutura da favela de passagens íngrimes e estreitas não permite que a lei, a ordem e cidadania chegue aos milhares de famílias que nelas vivem. Muitas vezes ouvimos falar de que é preciso "permissão" para entrar numa favela.

No Rio existe uma enorme disparidade econômica e racial entre o morador da favela e o morador do asfalto. A integração dos dois tem sido a preocupação de muitos programas, especialmente o 'Favela-Bairro' que intervém na favela com projetos urbanos como a construção de escadarias, calçadas, elevadores, sistemas de coleta de lixo e esgoto, etc; projetos que introduzem uma certa dignidade na favela. Vários projetos bem sucedidos funcionam graças ao Favela-Bairro, ou seja, a idéia de intervenção arquitetônica ou cultural na favela não é nada novo. Porém o VidiGug é diferente porque 1. é um projeto de alta visibilidade internacional e 2. propõe uma integração no sentido OPOSTO (de asfalto para favela) por estar levando o turista e morador do asfalto para DENTRO da favela (e não de jipe de safari mas a pé)

Será o Museu a vitrine? Será o morador da favela a vitrine? Ou será a MUDANÇA a vitrine?

A resposta para cada pergunta acima é, provavelmente, SIM. O programa de curadoria do novo museu deveria incluir o morador como visitante e participante. Mas com turistas visitando o museu, é inevitável que o morador e a arquitetura da favela se tornem atração. Será necessário um trabalho social com a comunidade para ajudá-la a abraçar esta oportunidade e oferecer um ambiente seguro e interessante para os seus visitantes. Um projeto como esse poderá fazer germinar uma responsabilidade comunitária desde os primeiros dias da negociação do projeto.

Será interessante ver como o comércio da favela se desenvolverá vis-à-vis turistas "subindo o morro" (um movimento que nem o Favela-Bairro prevê). Claro que o caminho principal que leva ao edifício do VidiGug se tornará bastante turístico (uma versão bem mais simples, claro, de um Damrak/Amsterdã, Ramblas/Barcelona). Porém sempre haverá aqueles turistas que vão aventurar-se para fora das rotas turísticas explorando os "Off Broadways" ou cenas alternativas. Seria realmente maravilhoso se a favela pudesse evoluir ao ponto de acomodar estas diferentes tonalidades de turismo e comércio para além do perímetro do caminho principal que leva ao VidiGug.


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Desenho do exterior do VidiGug

A Estética do Prédio

O VidiGug não precisa ser um edifício enorme como a proposta de Jean Nouvel... apenas algo que a cidade possa pagar em parceria com entidades internacionais. A obra plástica, o prédio em si, consiste em um monte de blocos colocados de forma caótica uns sobre os outros refletindo o crescimento desordenado da favela. As cores seriam baseadas no Pelourinho em Salvador da Bahia. Com esta escolha quero chamar atenção para a atitude de muitas pessoas que acham que é pintando a favela que ela ficaria mais bonita (como se isso resolvesse os seus problemas sociais e do tráfico). Mas esta proposta de cores não é apenas uma crítica social. Acredito que existe um componente da psique brasileira que coloca o Pelourinho como epicentro do imaginário do nosso país. Sempre que a favela é retratada em pinturas naïf, por exemplo, em quase 100% dos casos todas as casas estão pintadinhas com estas cores que lembram o Pelourinho (quando na verdade as favelas tem a cor de concreto o tijolo cru). Acredito que uma memória coletiva possa ser a origem desta obsessão de querer colorir a favela - uma memória de bairros quase verticais que remete aos tempos coloniais na Bahia ou até mais longe ainda para o Bairro do Alfama em Lisboa.


Pelourinho, Salvador

O Guggenheim do Vidigal é furado com um imenso buraco que atravessa a estrutura inteira para que de dentro do auditório se tenha uma vista espetacular de Rio e Niterói.


Vista de Ipanema do topo da favela do Vidigal

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Desenho da Elevação Norte do VidiGug

Dentro do VidiGug

O prédio fica localizado numa parte do morro que tem 45 graus de inclinação. Ele tem 12 andares de altura na frente e 2 andares ao fundo. O design inclui um hall de entrada (acompanhar no desenho acima). Uma escada rolante leva o visitante deste hall até o foyer do auditório. Atrás do palco deste auditório há uma enorme parede de vidro convexo através da qual se tem uma vista do Rio. Esta parede de vidro é coberta com uma persiana móvel gigante.

Subindo por uma rampa do foyer do auditório o visitante encontra a primeira sala de exposição (Sala 1). A Sala 1 é longa e tem múltiplas facetas e níveis que refletem a caótica fachada do exterior do prédio. Este espaço, assim como os demais, terá rampas de acesso para deficientes. O visitante pode optar por subir à plataforma de observação, jardim de esculturas ao ar livre e café no topo do prédio. O longo hall de exposição conta com um palco em curva que aproveita a parte superior do buracão que atravessa o edifício. O palco pode ser adaptado para ser um palco plano normal, dependendo da exposição.

O visitante começa então a descer para dentro do museu. Passa por duas salas pequenas para instalações (Sala 2 e 3) e depois para uma sala maior sob o buracão (Sala 4). Esta tem uma rampa que sobe um andar e chega numa sala chamada O Losango (Sala 5). O visitante então desce por uma escadaria-praça, ampla, contendo terminais de internet e monitores de vídeo para assistir a documentários, filmes e performances do acervo de vídeo do museu. Finalmente o visitante, descendo as escadas, sairia do prédio para dentro de uma praça em frente ao VidiGug. Esta praça, na verdade é o topo de um 'prédio de reloação' que abrigaria os moradores que foram desapropriados para a construção do VidiGug. Este tipo de 'prédio de relocacão' permite que área horizontal aberta seja introduzida na favela.


Uma visão para uma mudança gradual.

O arquiteto Jorge Mario Jáuregui do Rio de Janeiro descreve quatro tipos de intervenção urbana já utilizadas nas favelas; O Urbanismo Defensivo (usado para salvaguardar monumentos arquitetônicos e naturais); o Urbanismo de Requalificação (com ênfase na recomposição da forma física da favela); o Urbanismo Estratégico (que limita as intervenções às áreas-chaves e pequenas que influenciariam e resultariam em mudanças mais brandas); e o Urbanismo de Articulação Sócio-Urbana (que procura "costurar" a cidade combatendo a segregação sócio-urbana).

Acredito que o VidiGug começaria como uma forma de Urbanismo Estratégico; um elemento de fora colocado num lugar-chave que provocaria uma mudança maior. Com o fluxo do turismo para dentro da favela, um Urbanismo de Articulação Sócio-Urbana começaria a agir no local: a integração do morador do asfalto com o morador da favela - um nova economia é criada. Com o tempo e com a ajuda de programas educativos no próprio Guggenheim, a comunidade colocaria em prática o Urbanismo Defensivo. Um que definisse as fronteiras da favela e evitasse o seu crescimento para dentro da mata. E, finalmente, a comunidade sugeriria o Urbanismo de Requalificação praticando exatamente o contrário da destruição da mata. A comunidade introduziria na favela parques, áreas verdes, algumas ruas largas e praças-escadarias. Completar estas obras implicaria na relocação de um número de famílias para "prédios de relocação" (como são chamados no programa Favela-Bairro). Estas relocações são para dentro da comunidade mesmo. (Um bom exemplo de prédios de relocação pode ser visto na comunidade Rio das Pedras.)

A proposta do Guggenheim Centro do Rio não fez jus ao projeto altamente transformador de Bilbao. A expansão da franquia Guggenheim não deve seguir uma fórmula mas sim procurar inovar. Que tal um Guggenheim Dakar?... ou um Guggenheim Teerã? Acho que a força na expansão do Guggenheim está no contraste, não na harmonia. E este contraste pode gerar resultados além da arte. No caso do VidiGug o grande resultado será a exposição da mudança na comunidade em torno do museu. Portanto o VidiGug não deve se tornar um elefante branco perfurado por balas perdidas, invadido por moradores. Acredito na força da responsabilidade comunitária. Acredito que estas 2600 famílias do Vidigal, a cidade do Rio e visitantes de todo o país e do mundo cuidarão para que este projeto tenha êxito e que seja uma fonte de inspiração.



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